"VOINHO"

Geraldo Victorino de França é engenheiro agrônomo, professor aposentado da Esalq/USP – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Foi casado com a professora Zilda Giordano Victorino de França, tiveram 4 filhos, 12 netos e cinco bisnetas. Os verbetes surgiram como um hobby,enviados pela Internet aos filhos e netos. São curiosidades e notas explicativas sobre temas diversos. Como são assuntos interessantes e educativos, surgiu a ideia de compilá-los num livro. Muitos desses verbetes já foram publicados na Enciclopédia Agrícola Brasileira, editada pela Esalq/USP e também na coluninha PLANETA TERRA que era publicada aos sábados no Jornalzinho, suplemento infantil do JORNAL DE PIRACICABA. Também já colaborou na coluna PECADOS DA LÍNGUA, coordenada por Elisa Pantaleão, veiculada aos sábados no jornal A GAZETA DEPIRACICABA.
É membro da Academia Piracicabana de Letras - Cadeira n° 27 - Patrono: Salvador de Toledo Pisa Junior

“Voinho” é o apelido carinhoso como é chamado pelos netos e bisnetas.

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Geraldo e Zilda ( Voinho e Voinha)

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Aprendendo com o Voinho

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by Mara Bombo

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Texto escrito em julho de 2008

Obrigado mãe, por tudo
Geraldo Victorino de França Júnior

Lembro-me vivamente de uma situação que ocorreu quando eu era bem pequeno e voltei da escola apreensivo com o fato de que a mãe de um colega falecera. Contei à minha mãe, que vendo em mim uma certa angústia, logo me disse: “não se preocupe, pois uma mãe viva cuida muito bem dos seus filhos, mas quando morre, cuida o dobro!”.
Com essas palavras em mente, escrevo sobre minha mãe Zilda – sempre atarefada cuidando da casa, do esposo, dos filhos e netos – e ultimamente dos bisnetos, principalmente a mais novinha, Ana Clara, o seu xodó.
Recordo-me dos domingos em época de inverno, que ela fazia sua deliciosa feijoada, mas era “obrigada” a fazer feijão comum e fritar bifes à milanesa para o único que não gostava de feijão preto – o filho caçula.
Sua culinária era farta e sadia, sempre nos ensinou a comer furtas e verduras. Dizia:“mesmo não gostando, é bom comer um pouquinho de rúcula”. Recordo, com aumento de salivação, dos seus bolos de chocolate, dos assados, dos deliciosos sonhos recheados de creme, das pizzas de massa frita feitas na hora por ela.
Ultimamente, mesmo com as limitações impostas pela idade, fazia sopas deliciosas, e o famoso macarrão alho e óleo sempre ansiosamente aguardado nas festas de final de ano.
Apegou-se demais às duas cachorrinhas vira-latas, que eram tratadas como filhas, principalmente a Lindinha. Chegava a não querer sair de casa para não deixá-las sozinhas.
À tarde gostava de falar ao telefone com as inúmeras amigas, sempre com alguma palavra de consolo para as adversidades que elas lhe retratavam, e todas, sem exceção, diziam que se sentiam aliviadas após a conversa “curativa” com a dona Zilda. E rezava para todos que sabia estar passando por dificuldades. Nunca deixou de se vestir bem, vaidosa que era. Ao lado do meu pai, ficava até tarde da noite em frente ao computador “navegando” pela rede.
Sempre teve resistência a ir a médicos para não “atrair doenças”, apesar de ter vários familiares na profissão. Não a culpo por isso, afinal, foi a caçula de dez irmãos e foi obrigada a suportar a dor da perda – além dos meus avós na juventude – e depois de 4 irmãs e 5 irmãos e ainda um neto de 15 anos de idade.
Recusava-se a fazer exames médicos, e somente a muito custo o filho caçula e o neto mais velho, ambos médicos, convenciam-na a fazê-los, e mesmo assim, só em último caso. Dizia que tinha fé em Jesus, e isso bastava para ela. Comigo, que sou o filho acima referido, sempre tirava dúvidas sobre doenças que alguém lhe relatara ter, para depois informar tal pessoa. Queria saber sobre medicamentos novos sobre os quais lia em jornais, revistas ou na Internet e queixava-se de sintomas que tinha ou pensava ter. Às vezes me chantageava dizendo que ira morrer se fosse internada ou fazer algum exame. Eu até achava engraçado esse teatrinho. Porém, tudo mudou na quarta-feira, dia 16 de julho.
Passei pela casa dos meus pais à noite, quando voltava do trabalho para ver se estava tudo bem. Mas não estava. Disse que estava nauseada. Mediquei-a. Disse-me então, com voz firme e olhando-me nos olhos, que estava muito cansada do dia-a-adia, sentia muitas saudades da mãe (minha avó já falecida quando nasci) e queria estar com ela; estava mesmo pronta a partir.
Senti um frio na espinha, pois essas palavras nessa hora, soaram-me não como das outras vezes que reclamava dos problemas de saúde, mas como algo concreto. Terminou fazendo-me prometer não deixá-la morrer no hospital, mas em casa. Eu lhe disse que não iria morrer tão cedo, mas ela apenas olhou-me. Realmente, não a achei tão mal. Tentei falar com minhas irmãs nesse dia para contar o que ela havia dito, mas não consegui.
Passados três dias, teve um mal súbito e, perante mim, minha esposa que me ajudou muito nesse dia, minha irmã Fernanda e meu pai, sua mente partiu. Senti seus olhos fitando o infinito, embora seu coração continuasse batendo. Mesmo sendo socorrida imediatamente e levada ao hospital, seu coração finalmente parou de bater algumas horas depois.
Acho que cumpri o prometido, mesmo não querendo. Esperou que eu chegasse em sua casa nesse fatídico dia para descansar na eternidade...
Enquanto a atendia e via sua vida carnal esvair-se, imediatamente me vieram à mente as palavras com as quais iniciei esta narrativa, mesmo com um imenso vazio no peito, compartilhado por meu pai, minhas irmãs, esposa, cunhados e sobrinhos, tenho a certeza de que agora estou sendo cuidado em dobro por ela, e sinto mais forças para continuar minha missão. Obrigado, mãe, por tudo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Data: 05/10/2009, 19:40:41
Nome: Maria Aparecida maria.antognolli@itelefonica.com.br
Oi primo....
Adorei seu blog....
E obrigada pelo segundo livro...que está ÓTIMO....

Anônimo disse...

Quem ja perdeu uma mãe querida não tem como nao se emocionar com essa homenagem tão linda e verdadeira!
Obrigada por compartilhar conosco e nos fazer sentir que a dor da perda pode ser ser superada pelas boas lembranças que ficam!
Abs
Teresa

Blog de Ana Marly Jacobino disse...

Nossa! Matei a saudade ao ver a foto a D. Zilda no seu vestido azul e sorrindo para mim. Papai sempre fala que "o tempo é implacável", a verdade é que o tempo vai nos deixando a cada dia um pouco mais orfâos das pessoas que inundaram as nossas vidas de esperanças! Abraços Poéticos

Ana Marly de Oliveira Jacobino (vizinha por muitos anos da família de D. Zilda no Bairro Alto)

Profª Zilda e Dr. Profº França

Profª Zilda e Dr. Profº França

Esta é a mais nova netinha do Voinho, a Maria Valentina

ORAÇÃO DOS ANIMAIS DA POETISA IVANA M F NEGRI DECLAMADA POR BETTY GOFFMAN NO DOMINGÃO DO FAUSTÃO